Petrobras vai rever patrocínio cultural

 

Petrobras vai rever patrocínio cultural

Matéria de Denise Luna, Pedro Soares e Matheus Magenta originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 3 de julho de 2012.

Suspensão para a avaliação atinge projetos do Programa Petrobras Cultural, mas poupa outros auxílios financeiros

Gerente que era tida como "ministra paralela da Cultura" saiu em reformulação feita por Graça Foster

A Petrobras suspendeu para avaliação o processo de escolha de projetos culturais do Programa Petrobras Cultural, como vem fazendo com várias de suas outras iniciativas de patrocínio.

Normalmente lançada entre março e abril, a seleção de projetos entrou em compasso de espera enquanto a nova presidente da companhia, Graça Foster, decide os próximos passos do programa.

Em janeiro, um pouco antes de Graça tomar posse, a Folha já havia solicitado à empresa informações sobre o programa em 2012.

Na época, a estatal afirmou que seria lançado "em breve" e que "estava ciente do seu papel e importância no patrocínio à cultura".

Passados seis meses, não há indicação de quando o programa será lançado. Empresas terceirizadas que faziam a seleção dos projetos foram dispensadas e, segundo uma fonte que acompanhou processos anteriores, uma nova licitação estaria sendo preparada para escolher novas empresas, mas sem data definida.

Graça assumiu a Petrobras em fevereiro deste ano, no lugar de José Sergio Gabrielli. E, na dança das cadeiras que promoveu, tirou o cargo da então gerente de patrocínios Eliane Costa, considerada pelo setor uma "ministra paralela da Cultura", graças ao orçamento que comandava.

No seu lugar foi empossado Sérgio Bandeira de Melo, que ocupava a cadeira em 2000, durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

FORA DE RISCO

Além do Programa Petrobras Cultural, a estatal tem patrocínios classificados como de continuidade e que não correm risco, como os grupos Corpo e Galpão e parte da programação do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, entre outros.

Já os projetos que dependem de seleções públicas do Programa Petrobras Cultural, que incluem festivais de cinema, permanecem em observação na estatal.

Sem patrocínio, o Cine Fest Petrobras, de Nova York, cancelou em junho a sua décima edição. No Brasil, grupos já temem uma descontinuidade dos eventos com a nova gestão.

SEM TERCEIRIZADAS

Entre os motivos para a suspensão do programa, segundo fontes da companhia, estaria a intenção de Graça de manter a seleção de projetos dentro da Petrobras, sem a participação de empresas terceirizadas, e em tempos de cinto apertado, a vontade de encontrar novas maneiras de financiamento.

O benefício fiscal usado para financiar a cultura, que inclui o programa e os patrocínios de continuidade, despencou de R$ 169 milhões em 2006 para R$ 108 milhões em 2009 e para R$ 63 milhões em 2010. A empresa não soube informar o benefício de 2011.

Em nota, a Petrobras informou "que, tanto os novos projetos que receberão patrocínio, como aqueles em análise para renovação, seguem os mesmos padrões que sempre foram aplicados pela empresa".

Frase

"A gente está muito preocupado com a situação. Há festivais [de cinema] que estão realizando edições com um quinto dos recursos necessários para não descontinuar o evento"

FRANCISCO CESAR FILHO
presidente do Fórum Nacional dos Organizadores de Festivais Audiovisuais Brasileiros

por Denise Luna, Pedro Soares e Matheus Magenta, Folha de S. Paulo e Canal Contemporâneo

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