CCBNB-Fortaleza abre duas exposições de artes visuais nesta terça-feira, 29, às 19h

CCBNB-Fortaleza abre a exposição individual "Nausea" e a mostra coletiva "EU
O OUTRO" nesta terça 29

FORTALEZA, 26.07.2008 - O Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (rua
Floriano Peixoto, 941 - Centro - fone: (85) 3464.3108) abre duas exposições
de artes visuais na próxima terça-feira, 29, às 19 horas.

São elas: a exposição individual "Nausea", do artista paraibano José Rufino,
com curadoria de Marcelo Campos, doutor em Artes Visuais pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e a mostra coletiva "EU O OUTRO", que
apresenta a produção contemporânea recente de 14 artistas paraenses, com
curadoria da professora e pesquisadora Val Sampaio, coordenadora do fórum
permanente de pesquisa em arte "Territórios Híbridos", da faculdade de Artes
Visuais da Universidade Federal do Pará (UFPA). Val Sampaio fará uma
palestra às 19h.

"EU O OUTRO" ficará em cartaz até 31 de agosto, e "Nausea" até 14 de
setembro. Gratuitas ao público, as exposições têm horários de visitação de
10h às 20h (terça-feira a sábado), e de 10h às 18h (domingo).

"Nausea", de José Rufino

A exposição individual "Náusea", de José Rufino, apresenta monotipias
(têmpera sobre papéis burocráticos) e mobiliário de metal. Trata-se de uma
nova instalação de José Rufino com curadoria do carioca Marcelo Campos,
composta por uma fusão de móveis de aço (escrivaninhas, arquivos de fichas,
arquivos de pastas suspensas e armários) de cujas gavetas "escorrem"
gravuras simétricas à maneira das manchas psicanalíticas de Hermann
Rorschach.

Na instalação NAUSEA, os interesses de Rufino focam o lado de dentro dos
móveis, armários e gavetas, procurando algo que é interdito, "espectrado". A
náusea é uma consciência subjetiva. Os armários cospem desenhos, manchas,
fluidos.

Rufino retoma o gesto expressivo de trabalhos anteriores. Agora, a
expressividade vem como apropriação de rabiscos estranhos, estrangeiros, já
encarnados nos armários como espectros. Manchas e desenhos se lançam da
escuridão das gavetas - por intermédio de imagens fluidificadas - em busca
do outro, do grito, do expurgo.

Texto do curador Marcelo Campos

"Os objetos não deveriam nos tocar, já que não vivem. Utilizamo-los,
colocamo-los em seus lugares, vivemos no meio deles: são úteis e nada mais.
E a mim eles tocam - é insuportável".

A constatação do protagonista de A Náusea, romance de Jean Paul Sartre,
serve-nos com justeza para observação sobre o trabalho de José Rufino. Seus
objetos nos colocam, enquanto espectadores, à espreita, observando
mobiliários que apresentam uma certa estranheza.

Também como na estratégia dos textos de Kafka, Rufino atua com olhar
insistente sobre as coisas até torná-las tocantes, instigantes, estranhas a
ponto de dialogar conosco como um corpo subjetificado, vivo e pulsante.
Assim acontece com gavetas, escrivaninhas, fichários, arquivos. Ao
agrupá-los, forma-se um aglomerado com arestas, pontas, lacunas, aberturas,
vãos.

Em NAUSEA, o conjunto de armários, gavetas, escrivaninhas, ganha diversos
predicados. Sim, como na construção de uma frase. Os móveis de metal
característicos de ambientes regulares como repartições e instituições
públicas perdem sua regularidade. Tornam-se deslocados por não mais
assumirem função convencional.

"O que se pode temer num mundo tão regular?", nos indaga Sartre. A aparente
tranqüilidade destes ambientes institucionais é ameaçada por ações e gestos
que nos fazem observar a engrenagem da arte. A grandiosidade da obra de
Rufino reside em não aceitar as manobras óbvias e regulares. Os armários são
sucateados, das gavetas surgem papéis manchados, os desenhos são feitos
sobre documentos originais.

O ambiente da instalação ativa um caráter expressionista, das coisas nascem
imagens fantasmáticas, espirituais. Uma das veredas da arte contemporânea,
segundo Hal Foster, é a recodificação do expressionismo do início do século
XX.

Aqui, Rufino situa-se na contemporaneidade. Porém, na busca da
expressividade dos objetos, o artista apresenta "imagens roubadas e
montadas". A obra apropria-se de objetos rabiscados, arranhados,
enferrujados pela ação natural do tempo e do homem.

Rufino, então, subverte o vínculo expressionista de gestualidade imediata,
como em pinturas anteriores, deixando o gesto para um outro: o desconhecido.
Este anonimato na aparência dos armários os espiritualiza. Criam-se
fantasmas.

Rufino acentua a estranheza. Preenche-se o vazio, as lacunas, com manchas
fluidas. As gavetas abrem-se em línguas, corporificando-se. Do escuro surgem
desenhos guardados. Em têmpera sobre documentos, os desenhos são compostos
de imagens duplicadas em tons encarnados e sépia. Assemelham-se a lâminas,
cortes com informações biológicas.

Das manchas, cabem ao espectador as atribuições figurativas. Confundimo-nos
com imagens pré-existentes e novas. Lemos números (141607), códigos,
assinaturas. Frases como "apresentamos os materiais abaixo". Do que tratam
tais papéis? Qual o assunto administrativo? A atmosfera é sigilosa.

A posição das gavetas, abertas, semi-abertas e fechadas, cria uma espécie de
respiração e ritmo para a instalação. A náusea, como sentimento corporal,
vem gradativamente em espasmos. No ato do expurgo, revelamos o interior
privado, as secreções fluidificadas.

Mas este "gesto espontâneo" se tornara um "signo reificado". Aqui tratamos
de ficções e interpretações. A expressão não pertence a ninguém em
particular. A arte apenas compartilha, deflagra uma experiência com os que
aceitam o jogo. Não há caráter documental, perde-se a história, o real e o
sujeito.

Rufino toma os objetos e a partir disso os acentua, como nas palavras.
Destacam-se tonicidades, reverberações, agudizações. As palavras mudam de
sentido até se tornarem impronunciáveis. A frase, agora, é estrangeira para
nós e para o próprio artista. Os móveis ganham funções sem funcionalidades.

"É preciso não colocar estranheza onde não existe nada", afirmara Sartre.
NAUSEA utiliza esta afirmação às avessas, estranhando o banal, banalizando a
estranheza.

(Texto de Marcelo Campos - curador, doutor em Artes Visuais pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ; professor adjunto e
coordenador da Graduação em Artes do Instituto de Artes da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro - UERJ).

José Rufino: resumo biográfico

José Rufino (João Pessoa, 1965) vive e trabalha no Brasil. Doutor em
Geologia e iniciado em pintura e escultura em cursos livres. Desenvolveu sua
jornada artística passando da poesia para a poesia-visual e em seguida
arte-postal e desenhos nos anos 1980.

O universo do declínio das plantações de cana-de-açúcar no Brasil conduziu
seu trabalho inicial em desenhos (longas séries em envelopes e cartas) e
instalações (Respiratio, Sudoratio, Vociferatio, Lacrymatio) com mobiliário
e documentos de família e institucionais.

Filho de ativistas políticos presos pela ditadura do regime militar
brasileiro nos anos 1960, o artista é também muito conhecido pelos seus
impressionantes trabalhos de caráter político, como a grande instalação
Plasmatio, primeiramente exibida na XXV Bienal Internacional de São Paulo
(2000), e composta por mobiliário e grandes manchas de tinta à maneira das
pranchas psicanalíticas de Hermann Rorschach, sobre cartas e documentos
originais de desaparecidos políticos brasileiros.

O diálogo dicotômico entre memória e esquecimento contamina seu trabalho
completo. Instalações complexas têm sido elaboradas a partir de contextos
institucionais, como portos (Laceratio) e estradas de ferro (Murmuratio). A
última, um grande "depósito de detritos de inundação fluvial" de mesas,
escrivaninhas e cadeiras com raízes, "exumadas" (Léthe, 2006), sintetiza seu
procedimento.

Fez exibições em bienais (Havana, 1997; São Paulo, 2000; Mercosul, 1999;
Venezuela, 1998, 2004; Ushuaia, 2007) e grandes exposições individuais
(Museu de Arte Moderna, Recife; 2003; Museu Oscar Niemeyer, Curitiba; 2004;
Museu de Arte Contemporânea, Niterói; 2004; Embaixada do Brasil, Berlim,
2006).

Exposição "EU O OUTRO"

Os Centros Culturais Banco do Nordeste (Fortaleza e Cariri, no Ceará; e
Sousa, na Paraíba), comemorando dez anos de atuação do CCBNB-Fortaleza,
estão ampliando seus limites geográficos na área das Artes Visuais.

Para isso, estão lançando o programa Contra_Fluxos, uma rede de diálogo de
artes visuais que se materializa na realização de blocos de exposições com
artistas contemporâneos que participaram de mostras em suas sedes ao longo
desses dez anos, bem como de artistas emergentes que estão surgindo na cena
artística brasileira.

Participam desta rede de diálogos não apenas artistas nordestinos, mas
também de outras regiões brasileiras, possibilitando assim
interculturalidade entre produção artística, instituições e público. Cada
exposição elabora um significante percurso do processo criativo desses
artistas, ao dialogar poéticas que se estruturam em consistentes pesquisas
artísticas.

As mostras possuem como eixo principal o diálogo entre a produção dos
artistas que já realizaram exposições nas dependências dos três CCBNBs nos
últimos dez anos e a produção artística visual oriunda do estado ela será
apresentada.

As exposições coletivas "CASA - um lugar em trânsito" e "EU O OUTRO"
inauguram este democrático programa que valoriza o intercâmbio artístico, a
pluralidade cultural e a consciência universal, realizado em parceria com o
Espaço Cultural das Onze Janelas e o fórum permanente de pesquisa em arte
"Territórios Híbridos", da faculdade de Artes Visuais da Universidade
Federal do Pará (UFPA).

Intitulada "CASA - um lugar em trânsito", a primeira reúne, desde o último
dia 9 até o próximo dia 31 de julho, trabalhos de onze artistas cearenses na
Sala Gratuliano Bibas, da Casa das Onze Janelas (Praça Dom Frei Caetano
Brandão - Cidade Velha - fone: (91) 4009.8825), em Belém (PA), com curadoria
de Solon Ribeiro.

A lista dos artistas alencarinos participantes abrange os seguintes nomes:
Euzébio Zloccowick, Jussara Correia, Lia Damasceno, Márcia Moura, Mariana
Smith, Murilo Maia, Rosângela Melo, Ticiano Monteiro, Victor de Castro,
Waléria Américo e Yuri Firmeza.

Por sua vez, a segunda, denominada "EU O OUTRO", apresenta a produção
contemporânea recente de 14 artistas paraenses no CCBNB-Fortaleza, a partir
desta terça-feira, 29, com curadoria de Val Sampaio.

Na relação de artistas paraenses, constam os talentos de Amanda Carvalho
Oliveira (Amanda Jones), Armando Queiroz, Bruno Cantuária, Carla Evanovitch,
Danielle Meireles, Eder Oliveira, Ediene Pamplona, Flávio Araújo, Heraldo
Cândido, João Cirilo, Luciana Magno, Murilo Rodrigues, Victor De La Roque e
Vitor Lima.

Amanda Jones, Carla Evanovitch, Heraldo Cândido, Luciana Magno, Murilo
Rodrigues e Victor De La Roque vêm a Fortaleza e realizam intervenções e
performances na abertura da exposição.

ENTREVISTAS E INFORMAÇÕES ADICIONAIS:

EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL "NAUSEA"

* José Rufino - (83) 9921.2941

* Marcelo Campos (curador) - (21) 8829.6617 -
campos.marcelo@gmail.com

EXPOSIÇÃO COLETIVA "EU O OUTRO"

* Val Sampaio (curadora) - (91) 8855.2017

* Amanda Jones - (91) 9174.8785

* Heraldo Cândido - (91) 9968.3041

* Murilo Rodrigues - (91) 8131.7419

* Victor De La Roque - (91) 9191.8682

* Carla Evanovitch - (91) 8133.7908

* Luciana Magno - (91) 8821.5548

CENTRO CULTURAL BANCO DO NORDESTE

* Jacqueline Medeiros (coordenadora de Artes Visuais) - (85)
3464.3184 / 8851.5548 - jacquerlm@bnb.gov.br

* Luciano Sá (assessor de imprensa) - (85) 3464.3196 / 8736.9232 -
lucianoms@bnb.gov.br

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