CRITICA MIGNONNES (LINDINHAS)

Alerta: contem spoiler

Na década de 80, do século passado, eu insistia em ver os filmes que eram proibidos e chegar as minhas próprias conclusões sem depender do achismo de censores (sempre achávamos um modo de ver o que era proibido); assim foi quando assisti "A Última tentação de Cristo" que retratava um Cristo mais humano e tal visão plena de humanidade aqueceu e incendiou meu coração para respeitar mais Jesus Cristo. Toda minha razão não conseguiu entender o porquê tantos insistiam em proibir algo que me soava belo e banal...

Hoje ao ler críticas e ataques ao filme MIGNONNES (LINDINHAS) e mesmo como se busca censura-lo resolvi retomar meus modos e ver tal filme e tirando minhas próprias conclusões e me espantei com o que vi. 

O filme é sem dúvida um soco no estomago de nossa sociedade por relatar em detalhes o como deixamos nossas crianças se sexualizarem precocemente e o que as leva assim agirem em parte por nossa culpa por permitirmos que a TV, a net, as amigas, etc as encaminhem em tal direção. O filme escarra na cara de nossa sociedade e grita como todos nós somos responsáveis por tal processo de sexualização precoce.


No filme temos uma personagem principal Amy, uma menina negra, de cerca de 11 anos, morando na França, vinda do Senegal, de uma família muçulmana tradicional o qual o pai ira se casar com uma segunda esposa; a mãe da menina está sofrendo com o casamento e Amy incorpora tal dor e começa a rejeitar os valores de sua cultura em uma revolta rebelde e justa contra algo indevido. O símbolo acionador da revolta é um vestido tradicional o qual será obrigada a usar no casamento de seu pai com a nova esposa.

Amy, que está sendo treinado para seguir os preceitos religiosos e culturais familiares, parte para a descoberta do mundo onde vive se aproximando de um grupo de meninas mais rebeldes de sua escola. O grupo apresenta em suas roupas e modos a sexualização precoce que se repararmos vemos em nossa sociedade nos Shoppings e mesmo em nossas próprias crianças; tal aspecto nos choca ao notarmos que esta sexualização precoce está em nosso meio até mesmo em nossa família e nem nos damos conta que tal representa algo abominável. 

Nas histórias individuais das meninas do grupo rebelde vemos crianças quase abandonadas a própria sorte sendo ensinadas e educadas por mídias e professores despreparados, ideológicos ou indiferentes... os pais destas meninas estão  preocupados com o trabalho ou com suas próprias vidas... este é o segundo soco  no estomago que tal filme promove em todos,, pois muitos de nós em nossa sociedade agimos sem nos dar conta do mesmo modo empurrando nossas crianças a sobreviverem sozinhas dentro de um universo cheio de predadores. 

O processo de sexualização precoce de Amy se intensifica com ela usando a internet para ter acesso às danças mais eróticas de mulheres adultas e ela se torna o foco que fomenta ainda uma maior sexualização de seu grupo de amigas. Curiosamente notamos que ela e todas as meninas ainda são imaturas e inocentes, isto representado na cena delas em um parque quando encontram uma camisinha usada e algumas não sabem do que se trata.





O grupo segue lutando para se apresentar e se apoiar mutuamente e entram sem pagar em um prédio de jogos de pintball eletrônico e quando estão para serem entregues a polícia, pela invasão sem pagar, Amy aprende que pode usar seu corpo e sexualidade para contornar a situação. Deste ponto em diante Amy esta completamente sexualizada e desejada por jovens e adultos obtendo reconhecimento virtual de milhares de pessoas recebendo o respaldo da sociedade e seus familiares ou professores não detectam tal situação, pois para tais Amy e suas colegas nada são.



O modo de contato de Amy com este mundo no qual de anônima se tornou uma celebridade é por meio de um celular que ela roubou do primo, o primo descobre o roubo e no momento que tenta reaver o celular Amy tenta usar sua sexualidade e se oferece sexualmente ao primo se encaminhando para uma factual prostituição... mas o primo a rejeita; tal primo simboliza a parte de nossa sociedade ainda coerente que rejeita a sexualização precoce de crianças... Em um ultimo ato de desespero Amy se fecha em um banheiro tira um nude de si e posta na internet antes de devolver o celular ao Primo. O nude é o ápice de seu processo de sexualização precoce e também seu ponto de virada, pois dentro dos parâmetros do mundo que ela faz agora parte ela foi além de todos os tabus e as consequências disto é que sua sexualização é finalmente notada e mesmo rejeitada por seu grupo de amigas e por sua mãe e tia que a confrontam e a tratam como se estivesse possuída por um demônio efetivando um exorcismo caseiro; vendo que o exorcismo caseiro não equacionou a situação chamam uma figura religiosa que entende o que realmente está ocorrendo e tal não efetiva qualquer forma de exorcismo e foca a real problemática familiar. 


Chega o dia do concurso de dança que coincidentemente é no mesmo dia do novo casamento do pai. Amy vai à apresentação de dança e vemos o cume de sua sexualização precoce conjuntamente com suas amigas se materializando no palco.

Os movimentos de dança são sim eróticos, fortes e quase nos envolvem e quando isto ocorre nos damos conta da imundice que é quase sentirmos atração por crianças e nos sentimos traídos e enojados com a cena e conosco mesmo... foi isto que senti ao ver tal dança e entendi o repúdio que o filme causa para muitos... Estes mesmos sentimentos podem ser vistos na prateia do espetáculo de dança apresentado por Amy e suas amigas, que é um misto de quase prazer e repudio pelo que estão vendo no palco, sim alguns estão encantados com tal sexualização precoce na plateia que assiste à dança e tais modos são o demonstrativo dos vários modos de ser e pensar tais cosias de nossa sociedade onde há uma parcela que conscientemente tentam fomentar a sexualização precoce de crianças ate para obterem lucro ou prazer no processo.


Quando ponderamos é fácil repararmos quem lucro com o processo de erotização precoce: cantores, dançarinos, apresentadores de programas infantis , professores, assistentes sociais(obtendo mais trabalho e ganhos), indústria da moda, indústria dos cosméticos, pedófilos,  youtubers, traficantes, defensores da liberação das drogas e dos costumes, certas ideologias que não funcionam economicamente e tenta abraçar pautas de costumes e pasmem até radicais religiosos ou extremistas  que tentam vender o oposto da sexualização precoce como sendo o ideal a ser adotado lucrando com tal ante exemplo.  

Lá esta Amy, no palco efetivando o ápice de sua sexualização precoce, recebendo a atenção que tanto almejava, o reconhecimento e as críticas de nossa sociedade... uma real celebridade instantânea que se fosse uma pessoa real e não um personagem certamente seria cultuada pelas mídias, programas de entrevistas , uma figura que despertaria desejos e rejeição, ou seja o ápice de nossa sociedade digital que sabe bem consumir figuras assim para obter lucratividades... 


Mas Amy do nada estanca, passa a se lembrar de suas reais origens, suas verdades pessoais e  sai correndo do palco para sua casa... em casa Amy encontra a tia-avó que traz toda a tradição e tal a reprimenda, a chama de prostituta e certamente se detivesse o pleno poder promoveria uma castração feminina em Amy (algo comum na cultura senegalesa de cunho islâmico), mas a mãe de Amy interfere e exige que deixe a filha em paz para que escolha seu próprio caminho...  E chega a cena final onde sobre a cama de Amy, lado a lado, está a roupa usada para a apresentação de dança e o vestido tradicional com todo o peso da tradição das suas origens e inesperadamente Amy não escolhe nenhum dos vestidos e sim se veste como uma menina ocidental normal e aceita a real idade que possui e começa a pular corda...Amy pula cada vez mais alto como se pudesse voar sendo ela mesmas sem ceder para as amarras mais radicais da tradição nem cedendo para  sexualização precoce.


Este final, sinceramente me emocionou, pois este é de fato a solução para o problema atroz da sexualização precoce, visto que tal não pode ser solucionada com a indiferença que permite que ocorra ou com a imposição de valores mais tradicionais e pesados. A escolha final de Amy nos mostra o caminho ideal para tal situação.


Nossa sociedade não pode ser radical tentando proibir ou censurar uma verdade que ocorre cotidianamente, isto não irá deter tal processo; não podemos também sermos indiferentes. Temos que achar caminhos diversos para que nossas crianças, meninas, filhas, sobrinhas, netas não precisem se venderem para se sentirem aceitas pelos grupos nos quais convivem. Precisamos ter consciência plena do que gera a sexualização precoce e não censurar uma verdade que nos constrange.

É fácil demais apontar o dedo em riste para aspectos da sexualização precoce presente no filme, mas isto não combate tal situação e seriamos como a tia-avó que acha que Amy esta endemoniada  ou é uma prostituta e temos que ser como o religioso que é chamado e entende o que realmente ocorre.



A nós cabe, sim, desprezarmos todos os que lucram financeiramente ou prazerosamente com os processos de erotização precoce de nossas crianças, pois tais são os reais sem escrúpulos que exploram e abusam da inocência que não deveria ser maculada.

Acima de tudo o filme não é para ser visto por crianças o pré-adolescentes e sim por adultos, pelos pais ou por quem se preocupe com a sexualização precoce.


NOTA FINAL: Ao compilar algumas imagens para ilustrar este texto revi algumas cenas do filme e notei que o erotismo das danças não está na dança em si e sim dentro de nossa mente que foi treinada a associar erotismos e sexualidade a alguns gestos, movimentos ou poses. Basta desligar alguns  circuitos neurais que podemos ver as cenas com um outro olhar.

Texto de Wellington R Costa