Exposição internacional sobre a relação entre arte, memória e política comemora os 40 anos do Paço das Artes

Paço das Artes apresenta mostra coletiva internacional sobre a relação entre arte, memória e política

 

Paralelamente à 29ª Bienal de São Paulo e integrando seu Polo de Arte Contemporânea, o Paço das Artes apresenta mostra coletiva sobre os temas política e memória. A exposição traz pela primeira vez ao Brasil trabalho do coletivo russo AES+F e conta com obras de Alice Miceli,Tatiana Blass, Ana Mendieta e Yoshua Okón, entre outros

 

Como parte das comemorações de seus 40 anos, e integrando o São Paulo Polo de Arte Contemporânea, o Paço das Artes apresenta a exposição Crossing [Travessias], coletiva composta pelos artistas AES+F (Rússia), Alice Miceli (Brasil), Ana Mendieta (Cuba), Lucas Bambozzi e Paloma Oliveira (Brasil), Tatiana Blass (Brasil), Yoshua Okón (México) e pelo Paço Educativo [Claudio Cretti, Daniela Avelar, Gabriel Nascimento, Mariana Fernandes, Tiago Santinho] (Brasil).

 

Com curadoria de Priscila Arantes, diretora técnica do Paço das Artes, a abertura acontece no dia 12 de setembro, a partir das 18h, e a mostra pode ser visitada até 7 de novembro. Crossing [Travessias] também contempla a mesa redonda Arte, Memória e Poder, com Márcio Seligmann-Silva e Priscila Arantes, no dia 30 de setembro, às 19h. Todas as atividades são gratuitas.

 

Crossing [Travessias] reúne obras que refletem sobre o tema da memória e do poder a partir da articulação de três vetores. O primeiro é formado por trabalhos que colocam em cena a memória histórica/cultural através de narrativas coletivas e individuais, reais e fictícias. O segundo vetor volta-se para projetos que incorporam o transcorrer do tempo e a efemeridade em seu próprio fazer e que dialogam com o tema da memória e da história no campo das artes. Um terceiro aspecto da exposição volta-se à discussão da memória digital, do arquivo e à configuração dos novos territórios de poder da cultura contemporânea.

 

Crossing [Travessias] diz respeito a caminho, trajeto, viagem. Muitas vezes é a palavra utilizada, tanto no campo teórico quanto literário, para descrever o trajeto da memória: na travessia das distâncias, realiza-se a poesia da memória, individual e/ou coletiva, e a percepção do tempo. "A ideia da mostra é contribuir, a partir do tema geral da memória, para uma visão crítica a respeito de nossa história tanto social quanto cultural", afirma Priscila Arantes, curadora e diretora técnica do Paço das Artes. "Uma vez que a história é produto construído, é pertinente refletir sobre quais são os dispositivos de construção de nossa memória e de que forma lidamos com os arquivos contemporâneos, questões presentes na exposição".

 

Artistas e obras

O coletivo russo AES+F, amplamente reconhecido por sua participação na penúltima Bienal de Veneza, é representado pela primeira vez no Brasil com a videoinstalação Last Riot [Último motim], de 2007, que aborda a forma como tecnologias e materiais transformam o ambiente artificial numa paisagem fantástica de uma nova época. Os heróis dessa época têm uma só identidade: a de participantes do último motim. Cada um luta contra si próprio e contra o outro; já não há diferença entre vítima e agressor, masculino e feminino. Esse mundo celebra o fim da ideologia, da história e da ética.

 

A artista carioca Alice Miceli, que participa da 29ª Bienal de São Paulo, integra a mostra Crossing [Travessias] com o vídeo 88 de 14.000, de 2004. Neste trabalho, as imagens de 88 prisioneiros mortos na prisão S-21, na capital do Camboja, durante o regime do Khmer Vermelho são materializadas em areia e exibidas em uma tela numa sucessão que respeita a data em que foram produzidas. Estas imagens são as últimas que se tem dos retratados em vida. Um dia de vida na prisão S-21 equivale a um quilo de areia, o que significa 4 segundos de visibilidade no vídeo.

 

A brasileira Tatiana Blass, que também participa da Bienal neste ano, prepara um trabalho inédito para o Paço das Artes, a instalação Pendurado. A obra é feita em parafina a partir do molde de um cachorro de pé, que fica pendurado por uma cinta de couro sobre uma chapa de latão polido disposta no chão. Uma resistência elétrica abaixo da chapa irá aquecê-la, derretendo o cachorro aos poucos.

 

Precursora da arte da perfomance, a artista cubana Ana Mendieta também está presente na mostra com 3 vídeos: Alma Silueta de Fuego, 1975; Corazón de roca con sangre, 1975; e Untitled (Blood sign #2 / Body tracks), 1974. Mendieta criou Body Tracks ao longo de sua carreira: mergulhava seus braços em sangue ou tinta e os arrastava sobre uma superfície, deixando uma impressão distinta de seu corpo e, no caso do vídeo exposto no Paço, de seu colapso com o chão. Também compõe a mostra uma série de 5 fotografias coloridas – Untitled (Rape Scene), 1973/2001, que nunca foi mostrada no Brasil e apresenta uma suposta cena de estupro, interpretada pela própria artista.

 

A videoinstalação inédita Do Sofá da Sua Casa, 2010, de Lucas Bambozzi e Paloma Oliveira, reconstitui, através de vídeos mapeados em um cenário doméstico, o pânico vivido por milhões de pessoas diante do espetáculo midiático que se seguiu aos ataques PCC na cidade de São Paulo em 2006. São vídeos que contrapõem diferentes pontos de vista, que fazem oscilar a noção de verdade embutida nos registros visuais: em imagens dos ataques encontradas em hipotéticos celulares perdidos, através de uma suposta conversa com um integrante do PCC em crise de consciência, a cena de um ônibus sendo queimado e as linhas de varredura de uma TV que desenha os fatos de forma fragmentada, por sobreposição e excesso. 

 

O mexicano Yoshua Okón participa da mostra com a videoinstalação Risas Enlatadas, de 2009. A obra documenta a criação de uma "maquiladora", uma fábrica mexicana que explora trabalhadores mal pagos, geralmente mulheres, e que, na maioria das vezes, existe por conta de companhias multinacionais estrangeiras. A fábrica concebida por Okón produz risos enlatados, um produto  multimídia fundamental usado pela indústria do entretenimento da televisão. Nesse projeto, Okón estuda intencionalmente os códigos de comunicação  da imagem corporativa e estimula a reflexão sobre os limites da relação entre a espontaneidade original da emoção e as lógicas seriais da indústria contemporânea.

 

O Paço Educativo, coordenado pelo artista Claudio Cretti e composto pelos artistas educadores Daniela Avelar, Gabriel Nascimento, Mariana Fernandes e Tiago Santinho, apresenta o trabalho Desblocados, que propõe recuperar antigos brinquedos infantis, criados a partir de peças modulares desenhadas à maneira dos antigos jogos de montar. De caráter interativo, a obra apresenta ao público um jogo de invenção de estruturas, que nos transportam para outras épocas. O exercício construtivo permite-nos pensar na memória como uma arquitetura instável, acúmulo de camadas históricas, destruição e reconstrução constantes.

 

 

Biografias

 

AES+F é composto por Tatiana Arzamasova (1955), Lev Evzovich (1958), Evgeny Svyatsky (1957) e Vladimir Fridkes (1956). Arzamasova e Evzovich são graduados pela Moscow Architectural Institute e Svyatsky pela Moscow University of Printing. Fridkes trabalha como fotógrafo de moda. AES se formou em 1987, tendo Vladimir Fridkes se juntado ao grupo em 1995. AES+F é sediado em Moscou.

 

Alice Miceli nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 1980, e vive e trabalha em Berlim. Formou-se em 2001 pela École Supérieure d´Études Cinématographiques, em Paris, e especializou-se em História da Arte e Arquitetura do Brasil na PUC-RJ em 2005. Em 2005, participou do programa de residência artística HIAP, em Helsinki, Finlândia, e participará de outro no Instituto Sacatar, na Bahia, em 2011. Dentre os prêmios que recebeu, destacam-se o Sergio Motta de Arte e Tecnologia e o Videobrasil, em São Paulo, além do Transmediale, em Berlim. Seu trabalho poderá ser visto na 29ª Bienal de São Paulo, em 2010.

 

Ana Mendieta nasceu em Havana, Cuba, em 1948. Além de escultora, foi uma pioneira da arte da performance e uma das primeiras artistas do campo do vídeo e da land art. Criadora de uma obra singular, seja pela utilização híbrida de variadas mídias, seja pela assimilação, em seu trabalho, de problemas de identidade natural e espiritual, Mendieta teve sua vida marcada por históricas mudanças sociais e políticas, dentre elas o exílio de Cuba, sua terra natal. Usando materiais orgânicos como sangue, folhas, areia ou flores, Mendieta explorou a imagem de seu corpo ausente para abordar sua própria perda e exílio, assim como o espaço físico e emocional entre história, cultura e memória. A artista faleceu em Nova York em 1985, com apenas 36 anos.

 

Lucas Bambozzi é artista e pesquisador em novas mídias. Produz vídeos, instalações, performances audiovisuais e projetos interativos, tendo trabalhos exibidos em mais de 40 países. Concluiu seu MPhil na Universidade de Plymouth, na Inglaterra, sobre espaços públicos e sistemas pervasivos. É um dos criadores do arte.mov Festival Internacional de Arte em Mídias Móveis e dedica-se à exploração crítica e artística de novos formatos de mídia.

 

Paloma Oliveira é criadora multimídia e produtora cultural. Desenvolve a performance de live images Ausências, com Marcus Bastos e Dudu Tsuda, e também a narrativa criada em tempo real Intransponíveis, com Lucas Gervila, Aécio de Souza e Paulo Gallian. Colaboradora do artista multimídia Lucas Bambozzi, desenvolveu diversos trabalhos instalativos como Mobile Crash, premiado no Ars Eletrônica Prix. Participou do projeto premiado Culture Robot (2009), juntamente com Kruno Jost, Mateus Knelsen e Ricardo Palmieri.

 

Paço educativo

Sob coordenação do artista Claudio Cretti, a equipe de artistas educadores do Paço Educativo — Gabriel Nascimento, Daniel Avelar, Mariana Fernandes e Tiago Santinho — promove ações que têm como objetivo estimular diferentes reflexões sobre as etapas do fazer, do aprender e do pensar a arte de nossos dias. Através de ações de difusão de arte contemporânea e da experimentação de linguagens, elaboram diversas atividades, a fim de viabilizar um ambiente participativo e aberto, ampliando a compreensão para além das questões apresentadas pelos artistas nas mostras em cartaz no Paço das Artes.

 

Tatiana Blass é graduada em Artes Plásticas pela UNESP. Atingiu reconhecimento internacional pela força de sua pintura expandida e tridimensional, participando da exposição do Nam June Paik Award no Walraff Richarz Museum (Colônia, Alemanha). Teve publicado um livro sobre sua obra pela editora espanhola Dardo. Em 2009, apresentou a exposição individual Cão Cego no MAM-BA. Neste ano de 2010, participará da 29ª Bienal de São Paulo.

 

Yoshua Okón nasceu na Cidade do México em 1970, onde vive e trabalha, alternadamente com Los Angeles, EUA. É mestre em Artes pela UCLA, Los Angeles/EUA (2002), e bacharel em Belas Artes pela Concordia University, Montreal/Canadá. Em 1994, fundou La Panaderia, espaço coordenado por artistas na Cidade do México. Expôs individualmente no México, na Itália, na Alemanha, nos EUA, em Israel e na Suíça. Também participou da Bienal do Mercosul  (Porto Alegre, Brasil); Bienal de Istambul (Turquia); Trienal del ICP (Nova YorK, EUA); Bienal da California (EUA); e Torino Triennale (Turim, Itália).            

 

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S e r v i ç o

 

Crossing [Travessias]

Abertura: 12 de setembro de 2010 (domingo), a partir das 18h. Aberto ao público.

Visitação: 13 de setembro a 07 de novembro. Terças a sextas, das 11h30 às 19h; sábados, domingos e feriados, das 12h30 às 17h30. Gratuito

 

Mesa Redonda: Arte Memória e Poder | Com Márcio Seligmann-Silva e Priscila Arantes

30 de setembro, quinta-feira, às 19h. Gratuito

 

 

Local: Paço das Artes. Espaço Expositivo.

Endereço: Avenida da Universidade, nº 01, Cidade Universitária, São Paulo

Tel: (11) 3814-4832 |Site: www.pacodasartes.org.br

Acesso e elevador para cadeirantes. Ar condicionado

 

Núcleo educativo

Informações e agendamento de visitas orientadas para grupos

Tel: (11) 3814-4832 / ramal 4

 

Informações para a imprensa

Caroline Carrion: caroline@mis-sp.org.br  | 2117-4777, ramal 312

 

 

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